Poemeu: Salvemos o "purtuguêiz"

Um dia, encontrei um escritor

Que dizia escrever com maestria.

Li sua obra por um dia

E não pude evitar a dor.

 

Tive alguma dificuldade

Ao tentar decifrar o escrito

E entender o que ele havia dito,

Antes de constatar a realidade.

 

A primeira coisa que teve que ser feita

Foi a tentativa de identificar a língua,

Que parecia estar morrendo à míngua,

Mas que, nos textos, estava à espreita.

 

Percebi, com certo pavor,

Que se utilizou o escritor,

Para executar seu feito,

Disso tive quase certeza,

Da língua portuguesa

Como o idioma eleito.

 

Ou era algo parecido,

Tantos foram os erros cometidos.

A crase quase não foi usada.

E quando foi, ficou colocada

Sempre na posição errada.

Era de dar pena da coitada.

 

A vírgula, que tanto ajuda a compreensão,

Ali, o que mais causava era confusão.

Às vezes, desaparecia do texto,

Embaralhando todo o contexto,

Não se sabe a que pretexto.

Noutras vezes, imitando a linguagem oral,

Surgia em excesso, sem pudor e sem moral.

 

O ponto, tão pequeno sinal,

Que nas frases mostra o final,

Muitas vezes foi ignorado.

Sem qualquer dó, foi maltratado,

Desprezado, esquecido e humilhado.

Só restou ver as frases se emendando

Com os seus sentidos se extraviando.

 

Também há a questão da concordância,

Onde os erros ocorreram com constância.

De gênero, de número, verbal ou nominal,

Além de todas as demais ocorrências.

Erros cometidos com tanta frequência,

Como nunca nesta terra se viu igual.

 

Ainda não pude deixar de notar,

Por tão grave erro no seu trabalhar,

As palavras escritas de forma errada,

Quase compondo uma nova linguagem,

Como se criasse um dialeto para a mensagem.

Para quê, se a forma correta já foi tão ensinada?

 

Pobre língua portuguesa...

Acabaste de perder tua beleza.

Diante de tantas barbaridades

Tantas vezes contra ti cometidas,

Pareces agonizar em despedida,

Apenas aguardando a final fatalidade.

 

Desculpe meu mau jeito.

É que dói ver tão maltratada

A língua por nós herdada.

Eu juro que não é despeito.

 

Este singelo manifesto, ao escritor endereçado,

Sem métrica, sem estilo e sem pretensão,

É apenas um apelo sincero por compaixão

E por respeito pelo idioma nesta terra falado.

 

Se não corrigirmos isso com urgência,

Não haverá jurisprudência ou decência.

Tampouco clemência.

No final da correspondência,

Em vez de “atenciosamente”,

“abraços” ou “cordialmente”,

Vamos acabar assinando:

 “ É nóis na fita mano ”